quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Enojamento


Abre-se um jornal local e não se consegue ir além da leitura de algumas cartas de colaboradores, das notas de falecimento (coisas da idade!) e uma ou outra notícia regional.

As matérias globais acabam sendo as mesmas que você irá ler nos jornais de maior porte, apenas com a mudança nos títulos e alguma pequena alteração na redação do conteúdo.

Essa pouca atenção dada ao conteúdo da maioria das matérias, especialmente sobre política e futebol, é fruto da observação da tendenciosidade que norteia esse trabalho, que ainda não se entende que objetivos tem ou que pode estar sendo pago por quem.

A impressão mais nítida é a de que as redações estão atopetadas de pessoas com tendências ideológicas em queda, mas que não se conformam com as experiências malogradas ou com a redução de acesso às tetas da rês pública.

A mais famosa equipe de futebol da cidade vive com certa constância um vaivém de jogadores e de técnicos, num movimento que sempre deixa dúvidas a respeito sobre o interesse de quem esteja envolvido. Há algumas semanas sem treinador, sai-se a campo buscar um substituto e chega-se a Portugal, que é de onde vem o novo técnico do time. Entrevistam-se jogadores brasileiros no exterior, ex-comandados desse profissional e os resultados nos parecem muito bons; há expectativa de sucesso, mas amanhece-se o dia com o seguinte título: “Tabu é desafio para Jesualdo Santos”. Afinal, o que se quer? É começar a levantar polêmicas antes de começar o jogo? Antes mesmo de ele ser apresentado à equipe? Ou o que falta é capacidade para criar matérias sérias para ajudar a vender o jornal?

Vai-se a área de política nacional e o que se vê são os dentes dos cães hidrófobos fincados no calcanhar de um presidente que tem menos de um ano no cargo, tentando tapar rombos no casco e manter navegando uma embarcação infestada de cupins e saqueada por piratas insaciáveis.

No jornal que já foi referência em qualidade, mas que decai a cada dia, a manchete é “Desigualdade. Dois Brasis. Desigualdade aumenta e Norte e Nordeste ficam ainda mais distantes das outras regiões do país”.

Embora se saiba de antemão que a manipulação começa aí, insiste-se em esmiuçar o conteúdo para confirmar a faceta.

O primeiro exemplo de cidadão em dificuldade é vítima da recessão que assolou o país entre 2014 e 2016.
“Desigualdade. Dois Brasis. Desigualdade aumenta e Norte e Nordeste ficam ainda mais distantes das outras regiões do país”. Nem é preciso que se vá mais adiante nesta explanação para que se entenda a imoralidade profissional que campeia nas redações dos jornais.

O título: “Dois Brasis. Desigualdade piora e Norte e Nordeste ficam ainda mais distantes do resto do país”.

O conteúdo: “Um estudo de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a distância entre as regiões brasileiras aumentou nos últimos cinco anos, como consequência da recessão”.

A maioria dos leitores, já cansada do conteúdo manipulado, assoberbada ou com preguiça de ler, acaba sendo conduzida pelas manchetes que – reitero – mostram a irresponsabilidade profissional que grassa nas redações da quase totalidade dos jornais brasileiros.

Aí, então, os “trabalhadores” mantidos com o fruto dos desvios sistemáticos do erário, são pagos para buscarem essas manchetes e fazerem delas propaganda contra o país nas redes sociais.

Carlos Gama.
26/12/2019 12:07:07

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