domingo, 14 de junho de 2020

Interesses Outros

Recebi nesta manhã a cópia de uma mensagem de questionamento, enviada pela ONG Amigos de Santos à empresa Rumo, que é a concessionária de doze mil quilômetros da malha ferroviária brasileira, abrangendo os principais pólos produtores e portos do país.

O desmembramento e a privatização da malha ferroviária federal é assunto antigo e não cabe aqui questionar a sua validade, mas o que nos incomoda neste momento é justamente a ampliação dos prazos de concessão – agora até o ano de dois mil e cinqüenta e oito – sem que a empresa (financiada pelo BNDES) cumpra com o conteúdo dos contratos firmados na hora da concessão; dentre eles a reativação da linha que interliga o Porto e a Cidade de Santos ao Vale do Ribeira - transportando carga e passageiros -, linha esta que funcionou com eficiência e produtividade até o desmembramento e privatização da rede ferroviária no final da década passada.

Cada vez mais, a facilidade das comunicações e a disseminação das notícias têm sido usadas, e bem usadas, para “fazer a cabeça” dos cidadãos movidos por excessiva boa-fé, especialmente aqueles que se lançam de forma atabalhoada às ondas de apoio aos detentores permanentes do poder instituído, que também são levados por promessas, estatísticas e interesses outros.

Interesses outros que englobam vaidade, ânsia pelo poder e assuntos pessoais que se arrastam também pelo campo econômico e por sua sobrevivência futura e de seus apoiadores profissionais.

É nesse último campo que a guerra é travada, em detrimento dos interesses do país e de seu povo como um todo; a história contemporânea nos vêm mostrando isso com dolorosa clareza.

É natural que as empresas que manipulam o capital – especialmente o do erário - tenham interesse apenas pelas estatais mais lucrativas pois é a lógica, a mesma lógica que falta aos governos ao entregarem quase de mão beijada o patrimônio público lucrativo e ainda financiarem a aquisição e até alguns pretensos investimentos.

Entrega-se o patrimônio, ainda que não seja a troco de bananas e esse capital, usualmente mal versado, desaparece como água na bateia, enquanto o ouro continua a engordar permanentemente as contas bancárias e até novas aquisições pretendidas por seus acionistas.

Falta-nos um tanto de amor à pátria, para defendermos especialmente as galinhas dos ovos de ouro que, quando não vão para a panela, são trocadas por outras, comuns, em feiras de finais de semana.

Há que se questionar permanentemente e com a veemência necessária a entrega costumeira do patrimônio público a terceiros e a seus defensores, conduzidos por segundas ou terceiras intenções.

Afinal, qual o verdadeiro interesse em transferir para a iniciativa privada uma empresa estatal ou paraestatal que historicamente e por lógica só traz lucros?

Infelizmente, o que se têm visto nos últimos cento e trinta nos, é a mesma prática de saque ao erário, seja com a mão esquerda ou com a direita, pois nessa hora parece que os interessados – com maior ou menor habilidade - são todos ambidestros.

Carlos Gama 


Santos, 06 de Junho de 2020

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