terça-feira, 28 de julho de 2020

O Rei, as Galinhas e as Raposas


Era uma vez em um tempo distante, um império no ocidente com área muito extensa, mas mal explorada pelos nativos, que não conseguiam se unir em torno de interesses comuns.

Esse império era governado por um homem muito sábio, com o coração pleno de amor pelo seu país e pelo seu povo.
Porém, ele vivia triste por causa da condição de miserabilidade e do egoísmo da maioria de seus súditos.

Então, ele rogou ajuda à Divindade Maior, que lhe concedeu como presente para o seu país três galinhas. A princípio ele ficou meio desiludido, mas manteve seu espírito de gratidão. Aí, a divindade que já conhecia o seu íntimo e seu senso de solidariedade, explicou que aquelas três pequenas aves eram únicas, eram uma verdadeira mina, pois punham ovos de ouro.

O sábio imperador agradeceu muito, muito pelo presente e se retirou para a sua terra levando com cuidado o régio presente.

Mandou construir um galinheiro especial, fortificado e sempre bem cuidado por guardas da mais absoluta confiança.
Todavia, ainda assim, alguns deles transigiam e vez ou outra um gambá furtava alguns dos ovos. O imperador tentava, mas em sua boa-fé jamais conseguiu prender e punir os relapsos guardiães, porque eles eram todos muito bem relacionados entre si e ligados aos traidores que também tinham interesse nos frutos daquelas aves inigualáveis.

Certo dia, todos os interessados nos ovos se uniram em um complô e destituíram o imperador, enviando-o para o exílio, onde ele morreu de tristeza, preocupação com o futuro e de saudades de sua terra natal.

Os traidores criaram então um sistema de governo baseado nos moldes de um dos vizinhos mais ao norte e puderam através do tempo manipular a ordem de preenchimento do cargo de governante, que passou a ser temporário. Sim, temporário, mas dentro de um circuito que sempre trazia ao poder os mesmos grupos e, nas raras vezes que alternavam era por pessoas ainda mais gananciosas e com os mesmos instintos predatórios e individualistas.

Ainda assim, o país crescia com os frutos dos ovos que ainda sobravam para os cofres da nação e isso colocava os países vizinhos e até os mais distantes, sempre de olho nas galinhas dos ovos de ouro, especialmente aqueles países governados pelo clã das raposas, que queriam engordar ainda mais...

Foi então que elas se uniram e decidiram ir também à presença da Divindade que, sabendo de suas intenções, recebeu-as com um pé atrás. Mas, elas também eram parte do seu universo e a Divindade as ouviu com atenção. Todas elas queriam a mesma coisa: as galinhas dos ovos de ouro.

A divindade lhes disse que não havia outras galinhas como aquelas e que elas já haviam sido dadas de presente a quem fizera por merecer: o velho imperador.

Mas, não as deixarei voltarem de mãos vazias. Conceder-lhes-ei o privilégio de se transformarem em seres humanos, assim que o desejarem. Mas, tomem muito cuidado com os seus atos, porque se as galinhas forem roubadas ou furtadas, todos vocês poderão voltar a ser o que são por natureza e aí eu as colocarei no deserto, onde só encontrarão um calango ou outro para mitigar a fome e nada para matar a sede.

As raposas agradeceram e voltaram para as suas terras, conscientes de que não poderiam errar quando fossem tentar se apossar das galinhas dos ovos de ouro.

Unidas pelo interesse comum, elas chegaram à conclusão de que deveriam se infiltrar no reino das galinhas dos ovos de ouro e chegar ao palácio, para tentar influenciar o reinante de ocasião. E foi o que fizeram!

Por anos a fio, foram se alternando nas cercanias do trono, mas não conseguiam seu intento, porque havia nativos que também engordavam com a partilha dos ovos furtados, contando com a conivência de muitos patrícios ligados ao poder.

As raposas então, decidiram se preparar e unidas iam aos poucos conseguindo cargos no governo, cada vez mais próximos do trono, com o propósito de influenciarem as decisões sobre a venda das galinhas dos ovos de ouro.

Afinal, elas comiam mais que as galinhas comuns, estavam sempre sujeitas aos desvios dos ovos que botavam, então, a medida mais lógica era vendê-las e colocar o dinheiro nos cofres do reinado...

Por enquanto a nossa fábula fica por aqui, porque o pretenso fabulista, não é mais que um simples narrador da realidade que observa com tristeza.

Juan de La Botella.

28/07/2020 11:27:51

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