A situação do brasileiro
comum é desesperadora. Depois algum tempo – especialmente depois dos setenta –
a vontade do infeliz é que a “infalível” o chame sem demora.
Depois de anos e
anos de violação consentida, surge a oportunidade de mudar o quadro político e
sair daquela situação imoral e constrangedora, mas o escolhido preocupa-se
apenas em manter a família em situação de privilégio, enquanto vai perdendo o
apoio necessário para levar adiante as ações de moralização da estrutura e de
combate ao crime organizado, atitudes básicas para a promoção do crescimento do
todo e de implantação de mais justiça social.
Mas,
momentaneamente, deixemos de lado esse quadro negro e enveredemos pelas sendas
acessórias, mas que também não são mais claras em razão dessa sua secundariedade.
São momentos
pessoais, mas que não perdem importância no conjunto, porque são usuais, são
comuns e proliferam como metástases de uma célula cancerosa.
O cidadão se
desloca por mais de trezentos quilômetros em ida e volta para solicitar uma
certidão, em um município de seu próprio Estado; cumpre todas as orientações, preenche
os formulários, enfrenta fila em banco para recolher o tributo relativo e por
fim tem em mãos o protocolo desse seu requerimento. Dias depois recebe uma mensagem
por e-mail, solicitando a inclusão da certidão que requerera (uma certidão da própria certidão) e uma cópia do
mapa de localização do imóvel tributado pelo município. Cobram IPTU sem que
saibam a sua localização? Não, não é piada e nem mesmo é em “xiririca”, é no
Estado que dizem ser o mais adiantado na nação e a algumas dezenas de
quilômetros da Praça da Sé. Adiantado, sim, mas não se sabe em quê!
O funcionário
público quer apenas saber da garantia de aposentadoria com paridade nos
vencimentos da ativa e da incorporação do salário de chefia depois de cinco
anos de contribuição naquela faixa. Não, não há estrutura moral e nem econômica
que agüente!
Na mesma manhã um
novo teste para o inditoso cidadão, quando abre a conta de telefonia celular –
sim, telemóvel é o mais correto, como dizem em Portugal – e se surpreende com o
aumento na mensalidade. O sangue sobe, o olhar flameja, mas não tem à mão
nenhuma bazuca, que talvez fosse o outro caminho para se acalmar e acertar as
coisas em terras aportadas por Cabral. Maldita hora! Sim, faz mais de
quinhentos anos, mas... Maldita hora!
Sim, queres
saber do telemóvel! Ou talvez nem queiras, mas quero eu...
Em conversa de
enrola trouxas, o usuário do dito e maldito telemóvel acabou comprando um
aparelho mais eficaz ou menos obsoleto (o brasileiro sempre fica com as sobras) e,
depois de concluído o “embrulho” é alertado sobre o fim de seu plano, pois ele não
“existia mais”. Quando a funcionária da empresa de telefonia percebeu em seu
olhar que o negócio não iria prosperar, ela emendou: “mas, o valor do seu plano
mensal vai ser reduzido em cinco reais”.
- Ótimo! Assim
já abate no valor da mensalidade do “novo aparelho.
Mas chega a nova conta, com acréscimo de dez reais sobre a conta anterior...
O "pato" estrila,
enfurece-se, ameaça enfartar, mas decide entrar em contato com a “operadora” (A
que explora os serviços sob concessão do governo. Quem?) e, através dos
caminhos das redes sociais fica sabendo que, para ter o valor combinado na hora
da compra do “novo” aparelho, tem de se “fidelizar” por um ano.
Aí, ele responde
(por escrito) o seguinte:
“Bom dia! O
papel correto da funcionária seria alertar para a fidelidade e não
"enrolar" o cliente. A empresa não precisa driblar o usuário, para
garantir a fidelização de quem está com ela há anos.
Agradeço, sim, a
providência de manter o valor como combinado na hora da compra do novo
aparelho. A fidelidade é fruto de bons serviços prestados e não de outras ações”.
A empresa
deveria saber que o cliente, mesmo que não seja suficientemente “vivo”, ainda não
está morto.
Carlos Gama.
08/10/2019
12:16:38