terça-feira, 8 de outubro de 2019

A Desesperança


A situação do brasileiro comum é desesperadora. Depois algum tempo – especialmente depois dos setenta – a vontade do infeliz é que a “infalível” o chame sem demora.

Depois de anos e anos de violação consentida, surge a oportunidade de mudar o quadro político e sair daquela situação imoral e constrangedora, mas o escolhido preocupa-se apenas em manter a família em situação de privilégio, enquanto vai perdendo o apoio necessário para levar adiante as ações de moralização da estrutura e de combate ao crime organizado, atitudes básicas para a promoção do crescimento do todo e de implantação de mais justiça social.

Mas, momentaneamente, deixemos de lado esse quadro negro e enveredemos pelas sendas acessórias, mas que também não são mais claras em razão dessa sua secundariedade.

São momentos pessoais, mas que não perdem importância no conjunto, porque são usuais, são comuns e proliferam como metástases de uma célula cancerosa.

O cidadão se desloca por mais de trezentos quilômetros em ida e volta para solicitar uma certidão, em um município de seu próprio Estado; cumpre todas as orientações, preenche os formulários, enfrenta fila em banco para recolher o tributo relativo e por fim tem em mãos o protocolo desse seu requerimento. Dias depois recebe uma mensagem por e-mail, solicitando a inclusão da certidão que requerera (uma certidão da própria certidão) e uma cópia do mapa de localização do imóvel tributado pelo município. Cobram IPTU sem que saibam a sua localização? Não, não é piada e nem mesmo é em “xiririca”, é no Estado que dizem ser o mais adiantado na nação e a algumas dezenas de quilômetros da Praça da Sé. Adiantado, sim, mas não se sabe em quê!

O funcionário público quer apenas saber da garantia de aposentadoria com paridade nos vencimentos da ativa e da incorporação do salário de chefia depois de cinco anos de contribuição naquela faixa. Não, não há estrutura moral e nem econômica que agüente!

Na mesma manhã um novo teste para o inditoso cidadão, quando abre a conta de telefonia celular – sim, telemóvel é o mais correto, como dizem em Portugal – e se surpreende com o aumento na mensalidade. O sangue sobe, o olhar flameja, mas não tem à mão nenhuma bazuca, que talvez fosse o outro caminho para se acalmar e acertar as coisas em terras aportadas por Cabral. Maldita hora! Sim, faz mais de quinhentos anos, mas... Maldita hora!

Sim, queres saber do telemóvel! Ou talvez nem queiras, mas quero eu...

Em conversa de enrola trouxas, o usuário do dito e maldito telemóvel acabou comprando um aparelho mais eficaz ou menos obsoleto (o brasileiro sempre fica com as sobras) e, depois de concluído o “embrulho” é alertado sobre o fim de seu plano, pois ele não “existia mais”. Quando a funcionária da empresa de telefonia percebeu em seu olhar que o negócio não iria prosperar, ela emendou: “mas, o valor do seu plano mensal vai ser reduzido em cinco reais”.
- Ótimo! Assim já abate no valor da mensalidade do “novo aparelho.

Mas chega a nova conta, com acréscimo de dez reais sobre a conta anterior...

O "pato" estrila, enfurece-se, ameaça enfartar, mas decide entrar em contato com a “operadora” (A que explora os serviços sob concessão do governo. Quem?) e, através dos caminhos das redes sociais fica sabendo que, para ter o valor combinado na hora da compra do “novo” aparelho, tem de se “fidelizar” por um ano.

Aí, ele responde (por escrito) o seguinte:

“Bom dia! O papel correto da funcionária seria alertar para a fidelidade e não "enrolar" o cliente. A empresa não precisa driblar o usuário, para garantir a fidelização de quem está com ela há anos.
Agradeço, sim, a providência de manter o valor como combinado na hora da compra do novo aparelho. A fidelidade é fruto de bons serviços prestados e não de outras ações”.


A empresa deveria saber que o cliente, mesmo que não seja suficientemente “vivo”, ainda não está morto.

Carlos Gama.
08/10/2019 12:16:38

Carta aos Tungados

Esta não tem nada a ver com a outra carta, embora o título tenha alguma semelhança fonética. Esta é uma carta dirigida a você que se sen...