O texto é antigo (está nas páginas do livro Copa e Cuzinha", mas as práticas e algumas necessidades de mudança permanecem...
Quando eu
li o título "Governo vai investir quatro bilhões e cem milhões na produção
de pescado" achei excelente que o poder público esteja preocupado em
aumentar a produção de peixes em cativeiro, porque a pesca marítima está em
franca decadência em todo o globo, até mesmo para aqueles que têm história na
área e que usam dos mais sofisticados equipamentos de captura, conservação e
embalagem.
Todavia,
parece que eu me enganei e a proposta não é apenas produzir em cativeiro, mas
aumentar os financiamentos e os subsídios para a pesca no mar ou nos rios,
determinando patamares econômicos acima das realidades brasileiras e usando a
figura do pescador artesanal como vitrine.
Vem aí o
"Bolsa Pesca", fruto da demagogia irresponsável e criminosa, que faz
do país o quintal onde brincam de governar, os donos dos partidos políticos.
Enquanto os verdadeiros pescadores vivem de migalhas, os outros vão enchendo a
mala e o bagageiro com o nosso dinheiro.
Fotografei,
faz alguns anos, ao ser aberta, uma sardinha cheia de ovas; o período era logo
após o defeso - quando a pesca já é permitida. Haverá engano ou desconhecimento
sobre a natureza, na hora de determinar os períodos de desova ou a pesca
predatória continua o ano todo sem fiscalização?
A chefa do
governo fala, sem ênfase, da existência de famílias de pescadores que vivem em
situação de miséria. Mas, não são famílias de pescadores, presidenta, são quase
todas as famílias de pescadores artesanais, que sobrevivem na penúria, na
miséria...
Os outros,
os que vão se beneficiar - honesta ou desonestamente - dessas novas e das
antigas medidas, que deverão ser mantidas, são empresários da pesca. Alguns
enriquecendo honestamente com trabalho e bom uso das concessões, nem sempre
justas para o todo da população. Ouve-se falar, também, de outros que lucram
com embarcações que só existem no papel e no passado, aplicando no mercado
financeiro as verbas facilitadas ou com a revenda do diesel - também subsidiado
- que a inexistência dos motores faz com que sobre para o comércio ilegal e
criminoso.
Muitos dos
leitores do interior, com certeza ainda se lembrarão de terem ouvido,
especialmente na década de oitenta, sobre a compra de documentos de terras
frias e dos financiamentos de tratores que nunca sairiam do papel e nem o dinheiro
do banco.
Na pesca,
o jogo é semelhante.
Enquanto
essas práticas criminosas não forem muito bem cerceadas - em um Código Penal
atual, eficiente e rígido - com penas exemplares e suficientemente extensas, o
povo vai continuar pagando o pato que vai ao forno e enche a pança de alguns
grupos.
Carlos
Gama.
2012
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