segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

De Oitiva



O texto é antigo (está nas páginas do livro Copa e Cuzinha", mas as práticas e algumas necessidades de mudança permanecem...


Quando eu li o título "Governo vai investir quatro bilhões e cem milhões na produção de pescado" achei excelente que o poder público esteja preocupado em aumentar a produção de peixes em cativeiro, porque a pesca marítima está em franca decadência em todo o globo, até mesmo para aqueles que têm história na área e que usam dos mais sofisticados equipamentos de captura, conservação e embalagem.

Todavia, parece que eu me enganei e a proposta não é apenas produzir em cativeiro, mas aumentar os financiamentos e os subsídios para a pesca no mar ou nos rios, determinando patamares econômicos acima das realidades brasileiras e usando a figura do pescador artesanal como vitrine.

Vem aí o "Bolsa Pesca", fruto da demagogia irresponsável e criminosa, que faz do país o quintal onde brincam de governar, os donos dos partidos políticos. Enquanto os verdadeiros pescadores vivem de migalhas, os outros vão enchendo a mala e o bagageiro com o nosso dinheiro.

Fotografei, faz alguns anos, ao ser aberta, uma sardinha cheia de ovas; o período era logo após o defeso - quando a pesca já é permitida. Haverá engano ou desconhecimento sobre a natureza, na hora de determinar os períodos de desova ou a pesca predatória continua o ano todo sem fiscalização?

A chefa do governo fala, sem ênfase, da existência de famílias de pescadores que vivem em situação de miséria. Mas, não são famílias de pescadores, presidenta, são quase todas as famílias de pescadores artesanais, que sobrevivem na penúria, na miséria...

Os outros, os que vão se beneficiar - honesta ou desonestamente - dessas novas e das antigas medidas, que deverão ser mantidas, são empresários da pesca. Alguns enriquecendo honestamente com trabalho e bom uso das concessões, nem sempre justas para o todo da população. Ouve-se falar, também, de outros que lucram com embarcações que só existem no papel e no passado, aplicando no mercado financeiro as verbas facilitadas ou com a revenda do diesel - também subsidiado - que a inexistência dos motores faz com que sobre para o comércio ilegal e criminoso.

Muitos dos leitores do interior, com certeza ainda se lembrarão de terem ouvido, especialmente na década de oitenta, sobre a compra de documentos de terras frias e dos financiamentos de tratores que nunca sairiam do papel e nem o dinheiro do banco.

Na pesca, o jogo é semelhante.

Enquanto essas práticas criminosas não forem muito bem cerceadas - em um Código Penal atual, eficiente e rígido - com penas exemplares e suficientemente extensas, o povo vai continuar pagando o pato que vai ao forno e enche a pança de alguns grupos.

Carlos Gama.
2012

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